Por William Puntschart
No início da década de 1950, surgiram em Mauá alguns grupos artísticos ligados principalmente à arte musical que fizeram sucesso, numa época em que o rádio era o grande meio de difusão cultural. Entre outros, merece destaque, devido à irreverência e originalidades adotadas, o quinteto “Quatro bias e um cigarro”.
A própria denominação do grupo já o caracterizava como irreverente, na medida em que fazia analogia com o tamanho de seus componentes, pois quatro possuíam estatura mediana e apenas um era alto. Podemos identificá-los, a partir da fotografia de 1953, quando se apresentavam no Cine Santa Cecília. Da esquerda para a direita, Jacyr Favero (pandeiro), Manoel Monteiro Hauk (surdo), Archimedes dos Santos, o mais alto do conjunto (violão), José Benedito Ferreira Gringa (repique), Nelson Ferreira (maracas). Na ocasião quem os apresentou à platéia foi o senhor Lauro Genésio, à direita segurando o microfone.
Além da indumentária, rompendo com o tradicional terno azul marinho usado por quase todos grupos na época, o conjunto inovou no jeito informal de apresentar-se, descontraído e alegre, e, também, na seleção de músicas e ritmos adotados. A tal ponto que a cadência empregada em algumas canções, através da dissonância e ritmos próprios, prenunciaram de forma inconsciente o balanço com o qual a bossa nova, anos mais tarde, viria a ser conhecida. Fato lembrado eom propriedade por Archimedes dos Santos, ex-integrante do grupo atualmente aposentado residindo em Mauá e eterno amante da música.
A juventude mauaense na época logo se identificou com o quinteto e passou a acompanhá-los em suas apresentações. Freqüentemente, eles tocavam no Cine Santa Cecília, no salão da Igreja Matriz de Mauá ou nos famosos piqueniques da Porcelana Mauá. Animaram também várias festas de casamento na época. Onde fossem convidados compareciam nos clubes, circos, e nos bairros onde não houvesse palco, improvisavam shows em cima de caminhões.
O repertório era composto basicamente de samba e músicas americanas. acrescentando algo novo à bolerização da época. Tocavam, principalmente os sucessos de Luiz Gonzaga, Lupicínio Rodrigues, dentre outros. Aquarela do Brasil e tantas outras canções da música popular brasileira eram tocadas com entusiasmo naquele período, que ficou marcado também pelos sucessos do grupo “Vagalumes do luar”, nacionalmente conhecido.
Ainda no auge, os membros do Quatro bias e um cigarro participaram da campanha pró-construção da Imagem da Imaculada Conceição, padroeira da cidade, no Morro do Magini. Apesar dos esforços a obra não foi edificada e só restou a intenção de concretizá-la.
Podemos afirmar que o conjunto “Quatro bias e um cigarro” constituiu-se de fato numa das primeiras expressões musicais genuínas de Mauá, formado por jovens cuja pretensão era a de, através da música, revolucionar os padrões de uma época. Seja como for, o fato é que música e sensibilidade sempre caminham juntas e, independentemente do sucesso, ambas alimentam e iluminam o espírito das pessoas em qualquer período histórico.
Texto de 13 de novembro de 1997