"Quais são as propostas do candidato para a preservação da história da cidade, caso eleito?"
Essa foi a pergunta que fizemos a todos os candidatos na eleição de 2020 para prefeito de Mauá e um dos que respondeu ao nosso questionamento foi o então candidato Marcelo Oliveira agora prefeito eleito de Mauá e abaixo você pode conferir as propostas do agora prefeito eleito para a preservação da história e memória de nossa cidade.
A história de nossa cidade é muito importante e a preservação dela deve constar em todos os planos de governo de quem quer ser candidato e respeita a história de nossa cidade, por isso a importância de questionar os candidatos nesse ponto tão importante que é a preservação de nossa história.
Resposta Marcelo Oliveira: Importante salientar inicialmente sobre o tempo de existência de nossa cidade, um município relativamente novo se comparado aos seus vizinhos mais antigos como São Bernardo do Campo, Santo André ou mesmo Ribeirão Pires e São Caetano do Sul; Mauá é uma cidade jovem sob todos os aspectos, tanto em sua composição etária como em seu tempo de existência (nossa independência frente à Santo André ocorreu em 22 de novembro de 1953 através de plebiscito emancipatório, cujo evento foi resultado da mobilização do povo mauaense).
Mesmo sendo jovem, Mauá é uma cidade com muita história, pois seus processos de ocupação físico-territorial bem como suas vocações econômicas moldaram nossa memória e história a partir desses fenômenos econômicos, iniciados ainda no período que o então distrito era denominado Pilar.
Nossa história e memória locais, assim como sua disseminação e preservação, deve partir do reconhecimento dos inúmeros acontecimentos que tiveram como palco nosso território e como protagonistas os primeiros moradores e os pioneiros desbravadores do espaço que hoje compreende o município. Desse modo, por meio das narrativas articuladas com base no que a memória registrou a história vai sendo construída. Há uma relação entre História e Memória; contudo esta é matéria-prima, é objeto de investigação da primeira, pois sempre é importante salientar que Memória e História são conceitos distintos.
Esse processo tem sido verificado quando observamos nossa história local, inclusive que nos fizeram conhecer a existência, por exemplo, de importantes movimentos de operários, ainda em princípios do século XX, cujas estórias, relatos e memórias nos trouxeram uma tradição política ainda hoje muito forte na cidade.
A história de uma cidade deve ser contada a partir de seus protagonistas, não apenas sob a ótica das classes dominantes locais ou pelos grupos que se revezam no poder, mas também (e sobretudo) pela voz e experiência dos milhares de moradores, trabalhadores, homens e mulheres que construíram e ainda constroem a cidade sob todos os aspectos da vida do município.
Essas distinções contribuem para o entendimento da necessária multiplicação do número de vozes, de relatos, de testemunhos a serem ouvidos. Considerar as diferentes visões implica em construir e reconstruir uma história múltipla, na qual apareça a polifonia de vozes. Essa é uma das questões mais importantes quando se trata da importância da história local, que passa “pelo simples entendimento de que toda pessoa tem uma história e de que essa história tem valor”. Nesse sentido, saber ouvir é um ato de respeito ao outro e um exercício de cidadania. Assim, pode-se imaginar uma rede, ou seja, um espaço no qual as diferentes memórias (individuais) possam ser conectadas para torná-las disponíveis a fim de serem utilizadas para construir novas propostas educativas.
A memória tem uma dimensão pessoal, mas também social, coletiva, isto é, há memórias objetivamente construídas e selecionadas – memória social e/ou histórica. A memória objetiva tem um caráter seletivo, a sua materialização pode ser vista em monumentos, nomes de ruas, museus, arquivos, santuários, bens tombados, enfim, documentos evocadores das lembranças de facetas da história das sociedades.
Em Mauá, se faz necessário construir e fortalecer os chamados “lugares de memória”, existentes em decorrência da aceleração no ritmo de vida moderna e do não-compartilhamento de vivências, tradições e costumes. Construir lugares de memória para guardá-las tem o sentido de preservá-las da ameaça do esquecimento.
A materialização da memória associada ao patrimônio histórico, em alguns casos, torna-se alvo de manipulação, haja vista sua dimensão funcional e simbólica. Ao longo dos tempos, grupos políticos na disputa de poder têm se apropriado e manipulado o conceito de memória segundo seus interesses. Por exemplo, elegem memórias e constroem “lugares de memória” na tentativa de representação objetiva da memória social de uma cidade, em detrimento de tantas outras memórias deixadas no silêncio e condenadas ao esquecimento. Por isso, as políticas publicas da defesa da memória e história devem partir de um princípio de “política de Estado” e não como “política de governos”.
O histórico dos movimentos em defesa da memória e história locais tiveram grande incentivo a partir dos governos do Partido dos Trabalhadores. Com a criação, em 2001 do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico de Mauá (Condephaat-Ma), o município deu importante salto nas politicas de defesa de seus patrimônios, ampliando a partir disso a quantidade de bens materiais e imateriais tombados e assim, protegidos.
Segue relação dos bens tombados pelo Condephaat-Ma nos governos do Oswaldo Dias: Chaminé do curtume / Cruzeiro de pedra / Igreja Matriz de Mauá / Marco de Pedra / Paineira / Praça 22 de Novembro / Teatro Municipal / Samba-Lenço / Orquestra de Violeiros e o grupo Catira Az de Ouro.
Com a criação do conselho também se abriram as oportunidades para a plena participação da sociedade na formulação dessas políticas. Outra importante constatação que deve ser considerada sobre a temática foi a expressiva quantidade de textos e estudos publicados sobre a história de Mauá durante os governos petistas, política que foi na contramão das práticas de destruição dos patrimônios patrocinadas pelos governos da direita local (tristes exemplos não nos faltam, como a destruição da escola da Paineira, da Praça 22 de Novembro, da Capela de São Sebastião, do abandono do Cruzeiro de pedra e dos outros bem materiais e imateriais da cidade, do museu Barão de Mauá, da casa dos emancipacionistas, da casa dos ferroviários etc.).
Propostas:
-Reativação do núcleo de História e Memória do município;
-Reorganização e reestruturação do Condephaat-Ma;
-Buscar recursos e aporte técnico-financeiro para a restauração da casa de cultura e Museu Barão de Mauá, da Casa dos Emancipacionistas e da Casa dos Ferroviários;
-Reestruturar e reorganizar o programa de educação patrimonial (processo educativo em torno do patrimônio histórico-cultural), cuja finalidade é levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecer, apropriar-se e valorizar a própria herança cultural, preservar os bens e os espaços em que vivem;
-Ampliar os mecanismos de fiscalização, exposição, preservação e proteção dos bens e patrimônios históricos materiais e imateriais da cidade;
-Acelerar os processos de tombamento dos patrimônios históricos locais que já estão em andamento como forma de garantir sua proteção, impedindo dessa maneira a descaracterização e/ou destruição desses patrimônios;
-Construir junto ao Condephaat-Ma estudos técnicos detalhados acerca de nossos patrimônios históricos (tombados ou não), catalogando e inventariando cada um desses bens;
-Dotar a Casa da Cultura e Museu Barão de Mauá com equipamentos e servidores capazes de criar, instalar, organizar e manter estabelecimentos e atividades voltadas para a preservação, manutenção e divulgação do patrimônio histórico do município;
-Criar um Centro de Documentação Histórica para organizar, realizar exposições e recuperar documentos como textos, mapas, fotos, filmes, áudios e outros materiais que contam a história da cidade;
-Trabalhar a preservação da história local como uma política pública que envolva diretamente a população com o objetivo de informar e desenvolver nos munícipes um hábito, um sentimento de pertencimento e uma consciência preservacionista em relação aos patrimônios históricos e à cidade.