Texto de Severino Correia Dias, Professor de História.
Post. Jéssica Germoliato
Uma cidade dentro de outra. Assim pode-se definir O Jardim Zaira, o bairro mais populoso de Mauá, que abriga em torno de 25% dos moradores da cidade. Zaira era o nome da mãe de Chafik Mansur Sadek, que loteou o Jardim Zaíra no começo da década de 1952. Eram terras de João Jorge Figueiredo, industrial do ramo ceramista em Mauá, cuja fábrica ficava na estrada do Corumbê-atual Avenida Castelo Branco-, no caminho do Zaíra.
São 185 alqueires a gleba A, aprovada em 1956; a gleba B, em 1960. O rural dos tempos da lenha do Corumbê, do carvão e do plantio, vive a fase das olarias, ganha a primeira fábrica de louças do Pilar, nome anterior da cidade de Mauá. (Pilar torna-se Mauá no ano de 1926, em homenagem a Irineu Evangelista de Sousa, industrial e visionário brasileiro um dos homens mais importante do Império).
A política do loteamento era vender barato. O preço dos lotes se enquadrava no orçamento de qualquer operário, principalmente porque podia ser adquirido ao longo prazo. Quem comprasse um terreno um terreno ganhava 5.000 tijolos, 300 telhas, um vitrô, uma janela e uma porta. O material era suficiente para o inicio de construção de uma casa popular. O Zaíra iniciou sua formação em 20 anos. Depois, a partir dos anos 1970 e 1980, o crescimento para os morros e o inchaço atual.
Uma das primeiras Associações de Amigos de bairro foi a Sociedade Amigos de Bairro do Jardim Zaira e Adjacências, fundado em 1962, SABAJAZAC, tendo como umas das principais lideranças Olivier Negri que, juntamente com a comunidade reivindicava melhorias no bairro.
O interessante trabalho social no Jardim Zaira, era a possibilidade de melhorias, uma vez que o Jardim Zaira era o bairro mais carente Nestes Períodos (anos 60 e 70). Não possuía uma Igreja. Os lideres locais juntamente com a população se organizam para que a construção de um templo.
Um das principais colaboradores no Zaira foi o auxilio da Juventude Operária Católica (JOC), foi de uma relevância social muito importante, para a comunidade, que através das idéias religiosas e de cunho políticos, desenvolve o trabalho que vai dar origem a Ação Popular (AP).
O golpe Militar de 31 de Março de 1964 prejudicou o trabalho que a AP desenvolvia juntamente com JOC no Zaira. Prisões, torturas, humilhações este era o cenário sombrio que passava a comunidade do Zaira, nas décadas de 60 e 70.
Vários moradores do Zaira se destacaram em ações sociais podemos dar exemplos como: Carmem Edwiges Saviteto, o uma líder em Corumbê (Atualmente ZAIRA). Era o ano de 19 de Janeiro de 1947 quando Carmem candidatar-se ao cargo de Vereadora pelo partido Social Trabalhista PST. Com 349 votos Carmem não consegue se eleger. Mauá ainda pertencia a Santo André. Carmem era representante de Mauá que na época era um bairro afastado de Santo André. Juntamente com Armado Mazzo, (candidato a prefeitura de Santo André) ela reivindica não só para Mauá (hoje), mas para São Caetano também, até porque São Caetano estava em fase de emancipação (só em 24 de Outubro de 1948 é emancipado). Uma de suas reivindicações era luta contra carestia e o cambio negra; pela construção; de dois Hospitais com assistência gratuita a mulher trabalhadora e maternidade, que correspondam ás necessidades do povo do município. Criação de creches e parques infantis para crianças, nos distritos. Luta pela conquista de todos os direitos da mulher na indústria.
Carmem Edwiges Savietto Frati, nasceu em Ribeirão Pires, a 14 de Dezembro de 1922, filha de Cláudio Savietto e de Colomba Priolli. Ao tempo que saiu a candidata a vereadoras era escrituraria na Laminação Nacional de Metais, em Utinga, Santo André. Carmem Savietto faleceu, em Santo André, em 23 de Junho de 1956, e está sepultada no Cemitério da Saudade.
Outro de uma relevância muito importante foi Raimundo Eduardo da Silva de Formiga estado de Minas Gerais. Quando criança vem juntamente com os pais para São Caetano, depois migra para Mauá.
Raimundo foi criado no bairro Zaira, ao longo dos anos de 1960 estudou no Colégio Estadual Visconde de Mauá. (Um pouco mais a frente entre os anos d e1967 a1970) atuou como lidere da AP, fazia parte da liderança dos metalúrgicos da empresas Laminação Nacional de Metais a mesma cuja Carmem Savietto fala anteriormente. Em dezembro de 1970, foi preso e torturado na dependência do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo (DOPS-SP) onde foi torturado e humilhado segundo relatos de amigo, que foram presos juntamente.
Em seu atestado de óbito emitido pelo Hospital Militar, a causa da morte foi um edema pulmonar agudo. Foi enterrado como indigente e depois seus restos mortais foram trazidos para Mauá, no Cemitério Santa Lídia. Morreu aos 22 anos era responsável pelo Grupo de autodefesa o GAD, tinha noções de capoeira. Hoje no Jardim Zaira tem uma tem uma Rua em homenagem a Raimundo Eduardo da Silva, que foi um dos mais importantes lideres do Zaira, que juntamente com seus companheiros só queriam os direitos mais básicos de uma comunidade como o JARDIM ZAIRA.
No auge da ditadura militar, o Jardim Zaira foi manchete no grande ABC, pela presença de inúmeros moradores no qual fazia parte do movimento de resistência no município. Os órgãos de repressão daquela época procuravam o que eles chamavam de subversivo, um dos significados é REVOLUCIONÁRIO, AMOTINADO, REBELDE. Estas eram as características que a repressão tinha contra alguns os moradores do Zaira.
Um dos mais lustres articuladores deste período na cidade de Mauá foi Herbert José de Sousa, o Betinho. Betinho viveu clandestinamente em Mauá no qual trabalhou na Porcelana Real no ano de 1969, como ajudante de produção. Ele residiu na casa dos Negri. Olivier Negri Filho, ex-vereador, e seu pai chegaram a ser preso. Ligados à igreja, foram eles que, juntamente com outros companheiros, deram refugio para que fossem perseguidos, pela a ditadura brasileira. Por conta da perseguição policial Betinho usava o nome falso com Francisco Carvalho.