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Quando Cheguei a Mauá: anos 50 e 60

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Por Aristides Theodoro
 

Quando cheguei a Mauá, lá pelos anos cinqüenta, já se observavam alguns pruridos de cultura na cidade. Por exemplo, o poeta Guilherme Primo Vidotto, de velha cepa mauaense, já escrevia poesia, fazia política e alguns discursos quilométricos, prolixos, a la Fidel Castro. Ariocy Rodrigues Costa mantinha um serviço de alto falante, no centro da cidade, em cima de uma asa de concreto, (onde fica hoje a Praça da Bíblia) e debaixo ficava o ponto inicial da Empresa Kamoto, que transportava passageiros para São Paulo.

Esse serviço de alto falante anunciava a hora certa, fazia propaganda de casas comerciais e tocava, sobretudo, música, muita musica e caráter nacionalista, pois o velho Ariocy era, de certa forma, uma excelente pessoa, com muita vontade de trabalhar por um Brasil melhor.

 

Mais tarde, bem mais tarde, criaram algo parecido no Jardim Zaíra. O grande núcleo cultural da cidade, porém era mesmo o Grêmio Monteiro Lobato, instalado no cocuruto de um prédio, no inicio da Avenida Barão de Mauá, para onde convergiam os adeptos da cultura e aqueles que tinham sede de leitura e de um bom papo. Por ali passou uma grande parte dos professores e alunos da cidade. Aos domingos, encontrava-se a nata da intelectualidade local, pegando livros emprestados e jogando conversa fora.

 

Foi ali que encontrei Castelo e Dirceu Hanssen, Mané Galileu, Moysés Chaade, Benedicto Milanelli, Valêncio Branco, Pacolla, Chegadinho, Jarbas, Dr.Jales e tantos outros.

 

O Bar do Yugo e meu encontro com Moysés Amaro Dalva desencadearam toda uma ânsia de criarmos algo parecido, pretensiosamente, Com a Paris da Génèration Perdue, por onde passaram Ernest Hemingway, Scott Fitzgerald. Gertrud Stein, Erza Pound e tantos outros expatriados americanos, ou o nosso velho Rio de Janeiro da Belle  Èpoque, onde os literatos entupiam os cafés com suas boutades e muita literatura. Afinal, eu era grande leitor de tudo que se referia ao Rio de Janeiro do fim do século, com suas confeitarias apinhadas e literatos. Teve quem advogasse que eu possuía uma das mais nutridas bibliotecas particulares sobre o tema. O Moyses Amaro Dalva bebeu muito dessa fonte de pereníssima brasilidade e creio que foi daí que teve inspiração para criar os primeiros pensamentos para a formação do Colégio Brasileiro de Poetas. E eu, que sempre estive ao seu lado, também muito contribui para que a idéia tomasse forma, se materializasse, como diria Stendhal. Passamos a pregar a necessidade de criarmos um espaço, onde pudéssemos nos reunir para discutir poesia, debaixo de “um teto todo nosso”, se fossemos dar crédito à Virginia Woolf. Nesse tempo, Todos nós éramos simpatizantes de esquerda: alguns chegaram mesmo a ingressar no Partido Comunista e sofreram verdadeiras decepções. O nosso negócio era mesmo literatura e não ideologias partidárias, nas quais não se tinha vez nem mesmo para dizer o clássico ai Jesus!

 

Manifestações Literárias em Mauá – Colégio Brasileiro de Poetas, seus fundadores, associados e outros escritores da cidade.   

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