Por William Puntschart
A área, onde hoje encontramos o parque municipal em torno da Gruta de Santa Luzia, nascente do rio Tamanduateí, integrava parte da grande Fazenda Bocaina, cuja sede, o casarão colonial de arquitetura bandeirista, abriga atualmente o Museu Barão de Mauá.
Mais tarde, parte dessa área foi comercializada, dando origem ao Sítio Itapeva, ou sítio da Pedra Grande. Em seu entorno, além do bairro homônimo, instalaram-se inúmeras pedreiras, indicativas do início do processo de industrialização no município, solidificado com a presença de indústrias ceramistas e de porcelana.
Nessa época, os proprietários do atual parque também investiram na exploração de pedras e criaram no local a Pedreira dos Ferrari. Como se sabe, Santa Luzia é a protetora dos olhos e era freqüentemente invocada pelos trabalhadores, cujos olhos estavam expostos às lascas de pedras. Por isso, encontrava-se no local uma imagem dessa santa, provavelmente deixada pelos canteiros.
Historicamente, o surgimento da atividade da extração de pedras no município, no início do século passado, contribuiu para o desencadeamento de pelo menos dois processos simultâneos. O primeiro, referente à imigração italiana, cujos trabalhadores eram considerados, na época, os principais conhecedores da arte de cortar pedras. O segundo, relacionado ao nascimento do movimento sindical que,impulsionado pelas reivindicações trabalhistas dos canteiros de inspiração anarco-sindicalista, ganhou consideráveis proporções no Brasil, com a grande greve de 1917.
Por outro lado, se analisarmos com atenção os processos existentes na Prefeitura de Mauá sobre essa localidade, notaremos que toda a área do atual parque, com 450.899,68 metros quadrados, foi declarada, em 1974, de Utilidade Pública, para ser desapropriada amigável ou judicialmente. Na ocasião, o objetivo do Poder Público era estabelecer no lugar um parque de lazer, como de fato ocorreu. Porém, como não houve acordo entre as partes, a Prefeitura efetuou, em juízo, o depósito da quantia de Cr$ 10.606.433.,86 (dez milhões, seiscentos e seis mil, quatrocentos e trinta e três cruzeiros e oitenta e seis centavos) na conta do Espólio de Antonieta Ferrara.
Por algum tempo, esse espaço foi a única área verde pública na cidade, a qual, além de preservada, deve ter conhecidos pelos munícipes o seu passado e presente, a fim de que todos saibam o que fazer no futuro. Aliás, a fauna e a flora ali existentes são de fato patrimônios de todos. Por isso, quando visitamos o parque, devemos tirar apenas fotografias, levar apenas lembranças e deixar saudades e esperança.