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Notas sobre o Barão de Mauá

Prof. Dr. William  Puntschart


 

O patrono da cidade de Mauá, Irineu Evangelista de Souza, Barão e, mais tarde, Visconde de Mauá, nasceu em 28 de setembro de 1813, na cidade de Arroio Grande, província do Rio Grande do Sul. Após o falecimento do pai, transfere-se para a então capital do Brasil, Rio de Janeiro, onde dedica-se à atividade comercial como caixeiro numa casa de comércio. Porém, com a decretação de falência dessa firma, Mauá ingressa na empresa do inglês Carruthers, proprietário de uma poderosa casa de exportação e importação e responsável direto pela ascensão de Mauá n mundo dos negócios.

 

Destacando-se no estabelecimento, Mauá, já em 1836, é convidado para tornar-se sócio de Carruthers, tornando-se a partir de então corresponsável pelas principais iniciativas da firma. Inclusive, em 1840, propõe-se a fundar em Manchester, Inglaterra, a filial da empresa. Na verdade, a experiência adquirida nesta viagem às principais cidades inglesas, modificaria radicalmente sua mentalidade política, empresarial e industrial. Isto porque ali manteve contato, por exemplo, com as modernas máquinas desenvolvidas pela revolução industrial.

De volta ao Brasil, transformou-se em pouco tempo no maior industrial do Império. Para tanto, adquiriu a Ponta da Areia, no Rio de Janeiro, empreendimento onde desenvolveu vários setores de produção, tais como: fundição de ferro e bronze, construção naval, caldeiraria, serralheria e mecânica, entre outros. Assim, de um lado, criou as bases para o surgimento de outras indústrias e, de outro, ao empregar cerca de mil operários assalariados, inovou na relação trabalhista, contrariando a mentalidade escravista vigente.

 

Além da Ponta da Areia, o pioneirismo de Mauá abrangeu outros setores industriais: implantou a estrada férrea no Brasil, tornou navegáveis importantes rios, possibilitou a comunicação telegráfica entre o Brasil e a Europa, através de cabos submarinos e, também, suas empresas propiciaram importantes melhoramentos públicos como o fornecimento de água e iluminação a gás da Corte. Já a sua atuação no sistema financeiro, através de seus bancos, proporcionou crédito aos investidores e mesmo ao Estado, revolucionando o acanhado sistema econômico do país. Em resumo, Mauá esteve à frente em todos empreendimentos industriais, financeiros e de transporte de seu tempo.

 

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No campo, Irineu Evangelista de Souza foi colonizador, agricultor e estancieiro, tendo inclusive possuído numerosas estâncias e fazendas no Brasil, Argentina e Uruguai. Nessas propriedades criava gado e dedicava-se a grandes plantações de produtos para o mercado interno, utilizando maquinaria moderna e migrantes que foram importados para substituir o braço escravo. Progressista convicto, considerava que a solução para a questão agrária só iria ocorrer com o desenvolvimento agrícola, que contribuiria inclusive para nivelar as desigualdades sociais nos grandes centros urbanos. Com tais perspectivas, chegou a criar  a Companhia Agrícola, Pastoril e Industrial no Rio de Janeiro.

 

Politicamente, Mauá elegeu-se senador e deputado federal pelo Partido Liberal no Rio Grande do Sul. Defensor das liberdades individuais, era contrário à escravidão, além de crítico da participação do Brasil na Guerra do Paraguai. Frequentemente, foi designado mediador dos conflitos ocorridos na Bacia do Prata, envolvendo além do Brasil, Paraguai e Argentina.

 

Conforme procuramos demonstrar, a trajetória de Mauá foi fulminante e progressiva: de caixeiro a contador, gerente, comerciante, industrial e banqueiro. No entanto, algumas controvérsias com relação à sua atuação ainda persistem. Por um lado, os seus críticos procuram enfatizar os benefícios obtidos por suas empresas, entre os quais destacam diferentes monopólios e privilégios, além da proteção oferecida pela tarifa Alves Branco. De outro, vários historiadores acentuam as melhorias sociais promovidas por suas empresas como a canalização da água, iluminação e ampliação da rede de esgoto do Rio de Janeiro e a inauguração da rede ferroviária no Brasil. Liberal e abolicionista, chegou a importar mão de obra assalariada empregando-a em suas empresas e, ao fundar bancos, procurou democratizar o sistema financeiro nacional, retirando da coroa o monopólio das ações do mercado interno. Com isso, pretendia canalizar para o setor produtivo os capitais flutuantes com a extinção do tráfico negreiro.


 

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