Prof. Dr. William Puntschart
Historiador do Museu Barão de Mauá
A “Era Mauá”, isto é, o período da História do Brasil, ao longo do século XIX, no qual destacou-se Irineu Evangelista de Souza, Barão e, mais tarde, Visconde de Mauá, é considerada, por historiadores e economistas, como um marco no processo de industrialização no Brasil. Pois, a partir das iniciativas daquele que se tornaria o maior empresário do Império, observa-se um significativo crescimento do parque industrial nacional, capaz de modernizar os meios de transporte e de comunicações, além de serviços públicos de inegável abrangência social.
Na verdade, esse processo desencadeou-se após o regresso de Mauá da Inglaterra, onde fora fundar, em Manchester, a filial da Carruthers e Cia., empresa da qual se tornara sócio. Influenciado pela modernização da maquinofatura, ocorrida com a revolução industrial britânica, Irineu Evangelista fundou na então capital do Brasil, Rio de Janeiro, um conjunto de indústrias de base e investiu elevadas somas em projetos de envergadura, tais como: a modernização da Ponta da Areia, importante empresa de fundição e estaleiros e a inauguração da estrada férrea no Brasil. Além destes, discriminamos, a seguir, os principais empreendimentos de sua iniciativa e também aqueles nos quais participou como acionista.
Fundição e Companhia Estaleiros Ponta da Areia. Adquirida por Mauá, em 1846, pelo valor de sessenta contos, esta oficina industrial tornou-se a precursora de importantes indústrias e obras no Brasil. Foi responsável, por exemplo, pela fabricação de pontes de ferro, tubos para a canalização da água dos rios Maracanã e Andaraí e lampiões de ferro. Ali também foram construídos, por cerca de 1.000 operários assalariados, os trilhos da linha de bondes do jardim Botânico e mais de setenta navios, destinados ao comércio de cabotagem. Em 1857, porém, a fundição sofreu um incêndio criminoso, causado provavelmente pelos concorrentes e inimigos de Mauá, o que lhe causou grande prejuízo. Mesmo assim, o seu sonho de integrar a navegação à estrada de ferro não terminaria com este episódio.
Estrada de Ferro Petrópolis (Estrada de Ferro Mauá). Investimento da ordem de dois mil contos, dos quais dois terços foram arrecadados através das listas públicas e o restante aplicado por Mauá. Dessa forma, vinte meses após o início dos trabalhos, estavam inaugurados, em 30/04/1854, os primeiros 15 quilômetros de uma via férrea brasileira, sob os apitos da “Baronesa”, a primeira locomotiva do país, assim denominada em homenagem à Maria Joaquina de Souza, mulher e sobrinha de Irineu Evangelista de Souza. Em recompensa pelo relevante serviço prestado ao país, Dom Pedro II conferiu-lhe o titulo de Barão de Mauá.
Estrada de Ferro Santos – Jundiaí.
Estrada de Ferro Recife a São Francisco.
Estrada de Ferro Pedro II.
Estrada de Ferro Paraná – Mato Grosso.
Estrada de Ferro Antonina Curitiba.
Estrada de Ferro “Bahia and São Francisco Railway”
Caminho de Ferro da Tijuca.
Companhia de Iluminação a gás do Rio de Janeiro. Inaugurada em 1851, é considerada a empresa mais lucrativa de Mauá. Na época, a iluminação a gás das ruas era de fato uma das grandes aspirações da população brasileira.
Telégrafo Submarino. Ligando o Brasil à Europa, por meio de cabos submarinos, este empreendimento permitiu um grande avanço no setor de comunicações no Brasil. Inclusive proporcionou à Irineu Evangelista de Souza, em 1874, o título de Visconde de Mauá.
Canal do Mangue. Melhoramento de grande alcance sanitário, ao qual Mauá também ligou seu nome. Antes era local de má reputação, comprovada pela sujeira local.
Companhia de Navegação a Vapor, no Amazonas. Fundada em 1853, com privilégio exclusivo de 30 anos, capital de 3.000 contos, dos quais 1.200 subscritos por Mauá.
Amazon Steam Navigation Co. Com sede em Londres, encarregada da execução de serviços ligados à Cia. de Navegação a Vapor do Amazonas e outros correlatos. As suas embarcações faziam o trajeto da Corte ao Pará, ligando a capital do Império à oito províncias em um rendoso serviço de cabotagem.
CASAS BANCÁRIAS
Banco Mauá, Mac Gregor e Cia. e Banco Mauá, Carruthers e Cia. Partidário da pluralidade bancária, a participação de Mauá no sistema, segundo suas considerações, tinha o propósito de canalizar para atividades produtivas os capitais flutuantes com a extinção do tráfico negreiro, além de estabelecer a livre concorrência no sistema financeiro de então.
Por fim, vale observar que, além de destacado avanço tecnológico-industrial, o pioneirismo de Mauá refletiu-se em outras áreas. Por exemplo, a sua postura liberal e antiescravagista, empregando mão de obra assalariada em suas empresas, inovaria as relações de poder vigentes a tal ponto que, ao contrariar interesses de traficantes e senhores de escravos aumentaria, o número de seus inimigos; formado principalmente pelos representantes do imperialismo inglês e da Metrópole Portuguesa, tornando-o vulnerável à intrigas e traições. Outra novidade introduzida por Mauá refere-se à sua mentalidade empresarial optando pela diversificação e ampliação de seus empreendimentos, dirigindo até 17 empresas simultaneamente, ao contrario dos homens de negócios da época, proprietários de uma única empresa.